Relatório produzido pelo soldado Henrich Widow em parceria com
Aubrey, ave-mensageira do soldado em questão, para que se entregue às
mãos do Imperador Theodor II de Atarra, tratando-se das expedições
secretas por trás das linhas terrenas do Império de Tón, por parte do
soldado mencionado.
Vida longa ao Imperador! Vida Longa, eu clamo!
Dia I: Chegada em Tón
O ar carregado de Tón invade minhas narinas, indicando que estamos no
caminho certo. Hoje durmo com Aubrey num local restrito aos viajantes
perdidos. Antes de o Sol nascer, teremos partido para dentro da capital,
evitando que nos descubram.
As grandes muralhas da cidade que observei ao chegar são
definitivamente feitas de um barro desconhecido em Atarra. Nunca vi nada
parecido em minha terra. Devido ao fato de Aubrey não ter tentado comer
a argamassa (coruja teimosa), meu palpite está comprovado. Ela só come o
que já viu alguém comer, e sente o aroma destas coisas. Consegui
arrancar um pequeno pedaço da imensa parede para inspeção dos sábios de
Atarra.
Aubrey descobriu um tipo de vegetação rasteira que eu só havia visto
em imagens carcomidas em livros. Os cuidadores do lugar de onde estamos
demonstraram desdém ao serem perguntado sobre aquela espécie de planta. É
possível que esta pergunta tenha sido um deslize em nossa discrição.
Tenho um palpite que Atarra é uma exceção para esta vegetação.
Ouço os roncos de todos os presentes na estalagem e sinalizo para
Aubrey observar de cima. O sinal foi respondido. Partimos agora para
mais fundo.
Dia II: Os Nômades
Fomos acolhidos hoje por uma tribo suspeita nos arredores da capital,
forrados com a misteriosa vegetação, que se diziam “nômades”. Eles se
vestem com peles de animais grandes, como ursos e leopardos, e o único
alimento que carregam são garrafas de mel do tamanho de Aubrey, algo
entre 40 e 50 centímetros.
Eles falam com um sotaque fortíssimo, o que dificulta nossas
conversas. Não perguntam meu nome ou de onde vim, mas estão fascinados
com Aubrey. Não só com suas penas tratadas e cuidadas, mas com ela em
geral. Pegam em suas garras e observam seu bico sempre que não estou
prestando atenção.
Aubrey já possui um relacionamento difícil com qualquer ser humano e
acho que com estes nômades não é nada diferente. Quando nos chamaram
para comer, Aubrey passou todo o tempo, cerca de duas horas, vigiando o
mais alto que podia. Significa que ela quer ir embora deste lugar.
Como duvido que estes seres rupestres possam ter qualquer informação,
seguirei os instintos de Aubrey desta vez e iremos embora em breve.
Dia III: Debaixo dos trilhos
Estou tendo crises de claustrofobia.
Estamos em um túnel imediatamente abaixo do sistema de transporte
ferroviário de Tón há três horas e está ficando difícil de respirar.
Aubrey e eu estamos nos economizando escondidos enquanto descrevo mais
este dia.
Após deixarmos os nômades para trás, Aubrey e eu caminhamos focando
em entrar na civilização. Não pude deixar de ouvir o gorjeio de alívio
dela enquanto íamos embora do sítio deles. Nossa entrada em
Heron-Bastarte, capital de Tón, foi sigilosa como possível. Enviei
Aubrey para que descobrisse algo importante e um esconderijo perto deste
algo.
Caminhei levemente, imitando a pose dos civis que passavam por mim.
Alguns conversavam, poucos se deram ao trabalho de olhar para mim. Os
habitantes deste lugar são sociáveis entre si, mas parecem detestar
novos integrantes. O assovio de Aubrey me redirecionou para uma estação
ferroviária quase vazia.
Os trens passavam lentamente, hoje deve ter sido um dia de pouco
movimento devido às preparações para as festividades de Ano-Novo.
Compreensível, mas estranho. Uma pena de mocho orelhudo me faz descer as
escadas com certa cautela.
No subterrâneo, a iluminação é pobre e me guio pelos assovios de
Aubrey. Encontrei um cartaz escrito algo na língua natal de Tón, quando o
puxei para copiar seus escritos, achei Audrey num buraco na parede.
Coruja esperta.
Pretendemos ficar aqui até a noite e sairemos para investigar algo
mais perto da casa do Imperador, ouvi rumores de que ele se dirigiu a
uma província ao Sul por causa das festas.
Dia IV- Madrugada: Retorno
Estamos voltando para Atarra agora.
Eu e Aubrey deixamos nosso esconderijo e fomos tentar descobrir mais
algum segredo deste lugar, mas acabamos achando algo muito pior.
Quando saímos do subterrâneo, a estação estava com um cheiro horrível
de animais mortos. Ela [Aubrey] emitiu um som que eu traduzi como
pânico. Ela cravou as garras no meu ombro e eu resisti à dor para o bem
dela.
Respeitando o medo de Aubrey, andei devagar para compensar que ela
não estava voando para me alertar de qualquer perigo. Ela fez seu melhor
para ajudar, mas não era como olhar do alto. A cidade parecia um
verdadeiro cemitério, estava fria e silenciosa.
Repentinamente, um dos nômades que nos recebeu dois dias atrás surgiu
por trás de uma árvore. Saudei-o, mas ele não me respondeu. Olhando
melhor, percebi que ele trazia consigo um majestoso porrete de aço.
Retraí minha mão. Comecei a andar para trás, mas ouvi Aubrey piar
sutilmente. Tinha outro deles atrás de mim.
Senti meus dedos se petrificarem de frio e pavor. Aubrey aliviou a
pressão no meu ombro, significando que ela estava prestes a voar.
Sussurrei um comando simples, mas essencial: “Os olhos”.
Nos segundos seguintes, Aubrey atacara o nômade com o porrete de aço,
fazendo-o cair no chão. Peguei o porrete e rapidamente me virei para
acertar meu outro agressor. Acertei-o na lateral da cabeça e o ouvi
gritar.
Sabendo que aquela barulheira poderia estragar a operação, assoviei
para Aubrey e corri para a floresta. Ela voava sobre mim e fomos
depressa para longe do centro.
Agora estamos pegando carona numa caravana que está indo para Atarra.
O pedaço do muro roubado e o cartaz estão guardados em minha bolsa de
ração.
Espero voltar para Tón apenas para conquistá-la. Nação estranha.
Vida longa ao Imperador! Vida longa eu clamo!
*publicado originalmente aqui por mim
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