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segunda-feira, 30 de março de 2015

efeito do álcool

sentados na varanda
observamos ao Sol poente
a paisagem um tanto doente
pela poluição que anda

você começa a cantar para mim
e meu sangue ferve
o álcool você bebe
já sei como se contam histórias assim

seguro a sua mão
enquanto as notas se elevam
percebo uma nova entonação

suas pregas se rebelam
e não me sinto mais são
e as estrelas dançantes se observam

sábado, 21 de março de 2015

para quem subiu ao topo

que tal agora?
ou agora?
você pode me dar atenção agora?
o que eu tenho que fazer pra você me notar aqui no meu buraco?

quer uma lupa?
ou binóculos?
se quiser eu busco uma luneta, quer?
eu faria de tudo para que você olhasse para mim uma vez


quinta-feira, 19 de março de 2015

cama de prego

boa tarde, como vai? foi daqui que pediram tratamento antioxidante? deu pra notar... quantas pessoas deitaram naquela cama?
vinte?
poderia dizer que muito mais. muito, muito mais que vinte. mais que cinquenta, eu apostaria... é pelo líquido que escorre, entende? parece pertencer a muito mais que vinte pessoas... de qualquer forma, o produto é esse aqui, é só passar e nada de ferrugem. sim, pode passar agora se quiser.
como disse? se quero deitar?
eu estou mesmo cansado, mas na sua cama? agora? ah, se o senhor usar o antioxidante... sou o vigésimo primeiro? que honra, eu acho...

e morreu ao se deitar

quarta-feira, 18 de março de 2015

MeU

seja minha posse
alivie minha tosse

seja meu presente
me trate quando doente

seja meu brinquedo
não precisa acordar cedo

seja meu, eu preciso
de alguém com siso

seja minha obra
eu o protegerei de toda cobra

seja meu deus
e seu serei um filho teu

seja minha caixa
para guardar a autoestima baixa

terça-feira, 17 de março de 2015

me dê

me dê com carinho
me passe o que eu quero
você sabe o quanto eu espero
não vá bagunçar o ninho

não é uma troca, aqui
é um presente
ainda está quente
sinto o cheiro de marfim

sentidos perdidos
e visões retorcidas
sonhos abatidos

a sirene da ida
os violinos dos idos
e a eutanásia na despedida

quarta-feira, 11 de março de 2015

para quem rasteja

por que você veio?
não está de estômago cheio?
não calou todas as vozes
ou matou todos os algozes?

ainda precisa de mim?
da minha misericórdia sem fim?
cansou da solidão
e de toda a negação?

vai se ajoelhar agora?
sabe onde a humildade mora?
e a miséria
já é, para você, uma coisa séria?

está com o rabo entre as pernas?
quer minhas conversas ternas?
que tal um chute
para você se lembrar do seu próprio truque?


domingo, 8 de março de 2015

caçadores de mentiras ltd

caçadores de mentiras, este é o nosso trabalho. não nos importamos com os mentirosos, apenas com as falácias. junte-se a nós, e largue esse gume da sua língua.

fazemos expedições atrás das piores mentiras, e estamos em todos os lugares. escolas, hospitais e bunkers do exército, espiando no silêncio, quebrando-o com a palavra da verdade.

já estivemos em passeatas, mas nunca somos gravados nas câmeras, nem nos olhos. a discrição é o nosso tapete e nosso reconhecimento são as lágrimas vertidas após a desolação da honestidade.

os caçadores de mentiras.

quarta-feira, 4 de março de 2015

agulha de aniversário

você vinha andando comigo, conversando sobre algo inútil, como de costume
eu infernizava seus ouvidos com conversas sobre romances
ainda assim, era você que me entendia e cultivava como uma erva-daninha

então você a avistou, de uma certa distância, brilhando no concreto
foi discreto e incomum o momento, mas podia-se perceber
tirando-a do chão com a ponta dos dedos

passando pra mim, você disse as célebres duas palavras
"feliz aniversário"
não senti aflição no seu sarcasmo ou desdém, apenas aceitei o presente

nos próximos meses, usei a agulha de aniversário como um método de tortura
não era tortura propriamente dita,
eu fazia por diversão

mas quanto sangue, ah, quanto sangue
não tinha a intenção de matar você
era divertido pra mim, e você sempre demonstrando impassibilidade...

domingo, 1 de março de 2015

preciosa bonita besta

deixe a minha alma suja
largue minha mão
siga seu caminho são
e não deixe que o ódio se sobrepuja

com tantos monstros à solta você me escolhe
cuida de minhas presas tortas
e me abre dezenas de portas
como um semeador de corações você colhe

mas eu ainda sou um monstro
ainda com todos esses enfeites que você me põe
e estes cuidados desnecessários
continuo sendo uma peluda e horrenda besta

você diz "corra"
e entendo o recado, não devo só correr
preciso correr o mais rápido que puder
para o mais longe que conseguir

quando minhas patas ameaçarem me trair
e meu corpo ousar desistir
lembrarei de você
e de tudo o que fez

quando eu estiver beijando o horizonte
face ao sol poente
lamentarei seu sacrifício
mas agradecerei no amanhã, com certeza

marcarei minhas patas com o seu sangue
e meu faro estará sempre voltado a você
ainda que perdida
você será encontrada, por mim

apenas continue acreditando
acredite no meu retorno