não é você...

não é você, é o seu Deus
eu já procurei tratá-lo bem,
mas nossos santos não batem também
ele preza demais pelos templos seus

desculpa se seu deus é tão irritante
eu não posso fazer nada
se saí de um conto de fada
e você reza pra livrar-se da fúria castigante

já cansei de brigar,
até porque,
brigando com você,
sempre nos faço chorar

corra para papai do céu
não tenho mais paciência
de você me tratando como réu

só queria sua independência
mas você não solta esse véu
então receba a penitência

mapa?

pediram um mapa do meu coração, acredita? não dei, mas tomaram da minha mão, então tenha cuidado. estão indo te pegar aí.

não tenho muito medo, sei que você vai lutar por seu lar em mim como sempre fez. meu bravo guerreiro de armadura de brilhantes vai resgatar seu lar vermelho. te protegerei daqui e a vitória será sua.

dono do meu coração

quenga

bela meretriz
conhecida prostituta
com história bruta
se forjou atriz

das ruas surge
com peso n'alma
sussurra o que acalma
a canção que urge

sedutora à meia-luz
deprimida na escuridão
sem voz que lhe conduz

a batida com o caminhão
morre Ana Santa Cruz
prostituta da prisão

o homem

o homem é fagulha do homem
comburentes interligados
iluminadores tragados
por tudo o que consomem

ênfase às dificuldades
não é o ritual comum
tentaram, sem resultado algum
a luz vai para as amizades

laços formados
amor eloquente
viveres truncados

substancialmente
os abraços dados
libertam a mente

trata meu ardil sem pudor

estou morto
me sinto vivo
e esta morte é meu incentivo
vítima do aborto

fundamental se torna
ter você
um zumbi à mercê
de sua paixão morna

suprimido pelo frio
tratado com ardor
pelo ser esguio

nos olhos o fulgor
e meu ardil
tratado com pudor

rock and roll pra você

rock and roll pra você
esqueça o que ficou de fazer
siga adiante sem precisar dizer
pra onde foi, com quem ou o porquê

rock and roll na sua vida
perceba a realidade escondida
abra os olhos, querida
e sinta o cheiro da terra batida

rock and roll o tempo todo
difícil aguentar o estorvo
beije as asas do corvo
e deite sob o incontável toldo

me aposento

eu o louvo, meu amor
e canto seus feitos
modifico seus defeitos
e o amo sem pudor

não temo dizer
a Deus
que não diria adeus
e morreria sem você

a palavra é real
eu a represento
digo e fundamento

no fim me aposento
e libero todo o mal
me tornando seu animal

fugir da cidade

todos usamos
máscaras frouxas
algumas melhores que outras
e é assim que nos salvamos

calados
presos no futuro
deixando o que é seguro
para nos agarrarmos aos passados

mas temos medo
de evaporar amanhã
isso seria tão cedo...

mas, a cada manhã
temos que esquecer o engano ledo
e fugere urbem

flua em mim

já falei muito do Sol
muito tempo passei só
já senti bastante dó
abandono este posto de sofredor-mor

agora agradeço às águas sim
por tudo que elas deram a mim
você liquefeito e molhado assim
fluindo para dentro e afins

pouco a pouco eu sinto
o quão importa seu cinto
com o cheiro forte de absinto

bebo a última gota que tem
você agora tem controle além
de minhas veias nunca vistas por ninguém

amor é meu sexto sentido

talvez um dia tenha sido
o que chamei de incerto
mas se meu coração ficou no deserto
tenho que me dar por vencido

escondo o que tenho vivido
mas agora sinto o caminho certo
a sensação de que o melhor está por perto
o amor é meu sexto sentido

eu espero um dia alcançar
que fique só pra mim
para que eu consiga, mais uma vez, amar

que um "não" não seja meu fim,
mas uma queda da qual vou levantar
porque você quem vai dizer se é assim

palad

nasceu com olhos nas mãos, e isto era uma abertura para o instinto natural de escrever
ele estava acorrentado
tentava se libertar com as palavras
mas elas próprias lhe travavam na sua prisão
o ferro cortava sua carne, mas ele queria ser livre
estava pronto para tudo, mas só queria liberdade
de todos os dons que tinha
a escrita era seu maior regozijo
confiava em sua inspiração mais que em seu Deus
ele nunca foi livre
mas seguiu seu caminho
todos o escutavam
arrastando as correntes pelo corpo e chão