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sexta-feira, 3 de abril de 2015

nisso me esmero

agora escrevo com lágrimas nos olhos sobre você. são lágrimas para você, como tudo o que eu faço. essas palavras murchas ilustram o amor impossível. com você impassível e meu canto sofrido. você é o que eu quero, mas nunca terei. nunca vou beijar seus lábios. nem te sentir dentro de mim. nem te fazer me sentir. minha vida se parte e grita, mas você não quer ouvir. não vou culpá-lo. o decrépito fim é anunciado por sua voz de anjo desleixado. minha carne chora junto ao meu ser.

a frase encerra tudo em mim. velas apagam, me largando na escuridão eterna. revoadas de corvos me tapam a visão de seu sorriso. o coro angelical que cantava seus feitos, agora só murmura palavrões de desforras. a estrada em que nós andamos se parte, e o chão me engole. aterrisso no campo dos mortos e a eternidade está prestes a começar, mas não ligo. só quero você. você agora. você depois. você sempre. para sempre comigo.

mas não é isso que eu recebo. recebo dor, angústia e choro. recebo agonia, lamúria e ranger de dentes. aceito, eu sei que não é você que quer esfaquear-me a mente. você não quer pisar no meu coração ou no que eu sinto. meu amor é um lucro pra você. manchado com o sangue dos meus pulsos e as lágrimas da minha alma. entretanto, lucro é lucro. você quer dinheiro. te daria tudo. te dou tudo. sempre te dei tudo.

você sabe que eu quero você, e sabe o fim desta história. um revólver com uma solitária bala, ou uma corda firme de pano velho. o aço gelado da navalha, ou o choque com a tensão superficial do rio embaixo daquele viaduto. quisera eu acreditar no final feliz, mas você não vai me dar um. vai me tomar isto e rir como o rei dos demônios que você é.

o choro não cessará enquanto eu viver, e, até na escuridão infinita, com silêncio fatal, você poderá ouvi-lo. ao passo que minha vida se esvai, cada vez mais próximo da morte, meu amor por você cresce; junto com a tristeza. eu te amo, e nisso me esmero.

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