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domingo, 16 de novembro de 2014

cuco

alguém lhe deu pilhas novas
lhe prendeu na parede com um prego chique
passou horas te esperando

batia ao meio-dia e era pontual
pássaro de parede
no bico trazia a hora do almoço
e nas asas, o verniz

voe, pássaro de parede, voe
acho que não
preso a sua amada parede
sendo vítima do dinheiro
você não pode voar para longe
para onde eu não posso te ver

enlouqueceu em Outubro
agora soava às três e cinquenta e oito da manhã
matava todos de ódio

o portador do inferno sonoro tinha nome
Cuco
o pássaro de parede

voe, pássaro de parede
acho que pode ser
preso a sua amada parede
sendo vítima de ofensas
você um dia voará para longe
para onde ninguém quer te ver

parou de tocar
emudeceu-se após os últimos xingamentos
fez bico, é claro, era um pássaro

seu dono estava convicto de queimá-lo
mas sua esposa benevolente mandou dar pilhas novas
e aplicar mais verniz para embelezá-lo
mas o patrão não quis conversa

voou, pássaro de parede
acho-o no lixo
arremessado de sua amada janela
sendo vítima da gravidade
você voou como sempre quis
para onde se espatifou e eu pude te reconstruir

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